Após meses de comportamento inadequado, o ditador Nicolás Maduro cumpriu a profecia autorrealizável da eleição presidencial venezuelana no domingo (28), declarando-se vencedor com 51,2% dos votos, contra 44% de Edmundo González.
Há evidências abundantes de fraude. Seções eleitorais em redutos da oposição ficaram abertas por pouco tempo, enquanto áreas chavistas tiveram votação estendida. Houve um blecaute informativo de mais de seis horas entre o fechamento das urnas e a declaração de vitória de Maduro, que desencadeou protestos nas ruas e panelaços.
A opacidade na apuração, atribuída a um ataque hacker de um país inimigo, tornou-se o foco da contestação ao pleito.
A oposição, que escolheu o diplomata González como candidato após a impugnação de duas concorrentes pela manipulada Comissão Nacional Eleitoral, afirmou que venceu por 70% a 30%, conforme indicavam pesquisas independentes.
Nove países da região, liderados pelos parceiros do Brasil no Mercosul Argentina, Uruguai e Paraguai, solicitaram uma reunião de emergência à Organização dos Estados Americanos (OEA), na capital americana, denunciando o cenário farsesco.
Duas nações com governos de esquerda, Chile e Colômbia, questionaram o pleito. Os principais fiadores do processo eleitoral, Brasil e EUA, ficaram em cima do muro.
Washington foi rápida em exigir a publicação detalhada dos dados mesa a mesa de votação e expressou preocupação com a situação. A crítica direta está pronta para ser feita, dado que, obviamente, números críveis nunca surgirão.
O Brasil, com Lula (PT) sempre relutante em questionar ditaduras de esquerda, demorou horas para se pronunciar. Quando o fez, quis dar tempo aos acontecimentos, evitou reconhecer a vitória de Maduro e, em um tom mais ameno que o dos EUA, pediu a divulgação de dados eleitorais completos.
Agora, é imperativo que Brasília se mantenha firme nisso. Se o fará, é duvidoso, pois tal atitude colocaria Lula ante a indesejada realidade de que Maduro é um ditador.
O Acordo de Barbados, montado por Brasil e EUA, retirou as sanções americanas ao setor petrolífero da Venezuela com a condição de que o sucessor de Hugo Chávez (1954-2013) aceitasse uma eventual vitória de seus adversários.
No entanto, o que se viu foi uma sucessão de violações dos termos pelo regime. O caudilho, recebido com honras por Lula no início de 2023, chegou ao pleito com opositores presos ou coagidos pela Justiça.
Maduro, como a crise em torno da região guianense de Essequibo e o fluxo de refugiados venezuelanos ao Brasil provam, pode ser perigoso. Deixá-lo desrespeitar regras acordadas é inaceitável.
Foto: Juan Carlos Hernández / AFP
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2024/07/fraude-eleitoral-de-maduro-nao-pode-ficar-impune.shtml